De repente, uma dor que parece, que para, mas volta. Busco alívio. Ela é o sinal tão esperado. O encontro com a menina ainda desconhecida e incrivelmente amada e querida está muito próximo.
Ainda que doa, eu quero sentir. Quero passar por tudo. Como pode eu querer sentir esta dor? Penso comigo que é tudo uma loucura. Por que eu fui mergulhar nessas águas?
Essa dor que vem em ondas. Essas ondas que parecem que vão tirar o meu ar. Mas não tiram. Elas me dão mais força. Eu tenho um anjo comigo. Ela me lembra que a onda vem pequena ainda e vai ficando cada vez maior e mais forte, e pode até assustar. O anjo me lembra de respirar. Não devo lutar contra, preciso me entregar. Me entrego, e é a dor que me leva pro lugar onde eu mais quero estar. Resmungo, grito, respiro e olho para a frente e o anjo ali a me dizer que eu vou conseguir, está tudo bem. Respira!
E as ondas chegam cada vez mais fortes, e parece até que eu não vou conseguir me levantar entre uma e outra. Até que me falam: a menina está aqui! Se ela está aqui, só falta a minha parte. Tenho que me abrir para receber o seu abraço, o seu olhar. Estendo a minha mão e toco seus cabelinhos. Procurando pela dor, percebo que ela já não é mais uma onda. Agora ela queima, coroando a chegada da minha pequena.
- Eu consegui! Eu consegui! Acabou!
E toda essa luta faz sentido. A dor desaparece e dá lugar a uma alegria tão intensa que é difícil explicar. A dor me trouxe até aqui.
Não posso dizer que eu sofri. Eu só me entreguei à dor da minha vitória.
*Adriana Tanese Nogueira Educadora Perinatal