Por: Letícia Kfuri
Aos 63 anos, pai de dois filhos e avô da menina Amanda, que nasceu no dia 13 de outubro, o torneiro mecânico Licínio Cardoso realizou o sonho de muitos jovens que, apaixonados pela sensação de liberdade e pelo desejo de explorar o mundo planejam, um dia, conhecer as Américas viajando de moto. Esse era um sonho, que Cardoso carregava há muitos anos. Morador de Nova Friburgo, uma tranqüila cidade serrana no estado do Rio de Janeiro, ele começou há três anos a fazer os preparativos para a sua aventura. Este ano, decidiu que havia chegado a hora. Com sua Suzuki 250, ele pegou a estrada e veio parar em Miami. Foram dois meses e quatro dias de viagem, percorrendo nove países.
- Essa viagem era um sonho desde pequeno. Fiquei três anos me preparando. Muita gente me disse que era uma idéia maluca, mas eu não desisti, e não me arrependo - conta Cardoso que, sozinho, adaptou sua moto para a viagem. “Se fosse mandar fazer tudo, gastaria $2 mil, mas eu mesmo fiz tudo. Troquei o assento, instalei um encosto, pedal para esticar as pernas, compartimento para bagagem e tanque reserva. Fiz tudo o que achei que deveria, e não tive problema algum de desconforto”, conta Cardoso.
Seguindo pelo norte do Brasil, Cardoso chegou a Porto Velho. Embarcou a moto em um barco para cruzar o Rio Madeira e chegar a Manaus. Ali passou pelo grande susto da viagem. “Havia muita carga do barco, e encalhamos no meio do rio. Ficamos 32 horas em cima da pedra, em um barranco. Tiveram que tirar boa parte das 200 toneladas de carga, passar para outros barcos, para que pudéssemos voltar para o nosso. A comida e a água foram acabando, e a situação ficou bastante complicada, mas, felizmente, no final tudo terminou bem”, lembra.
Cardoso, que já saiu do Brasil com a maioria dos vistos lembra, no entanto, que quem planejar embarcar em uma aventura semelhante à dele, tem que estar preparado também para as chateações que podem surgir na estrada. “Na Venezuela a Guarda Nacional me parou seis vezes. Na Colômbia, de cinco em cinco quilômetros tinha uma patrulha do Exército. Mas problema mesmo enfrentei no Panamá. Estava com um polonês que conheci no trajeto e, faltando 80Km para chegarmos à fronteira, a Aduana nos parou. Ali descobrimos que a permissão que tínhamos para viajar havia sido feito no lugar errado, e não era válida. O nosso documento não tinha validade nacional. Foi um problema sério. Nossas motos ficaram retidas e queriam que pagássemos multa de $250. No final, depois de muito problema, acertamos por $100”, lembra.
As melhores impressões em matéria de organização Cardoso traz da Guatemala e do México. “Os dois têm uma organização perfeita, inclusive nas fronteiras, muito semelhante à dos Estados Unidos”, conta.
Para quem sonha em pegar a estrada, e ainda não teve chance de realizar este sonho, Cardoso dá um conselho. “Se é o sonho da pessoa, ela tem que ir em frente e não desistiu. Não vou dizer que é fácil, mas se a pessoa tiver coragem e vontade, não deve desistir da idéia”, finaliza Cardoso que agora pretende ficar na Flórida até janeiro, onde moram os filhos, e curtir um pouco a netinha Amanda.

