Um brasileiro condenado por fraude de clonagem de cartão de crédito em Seattle disse às autoridades federais americanas na semana passada que o deputado George Santos, filho de brasileiros e recém eleito como o primeiro deputado abertamente gay do Partido Republicano, era o mentor do esquema e que o ameaçou caso revelasse tal informação.
Gustavo Ribeiro Trelha se declarou culpado de uma acusação federal no esquema, em 2017, e acabou sendo deportado para o Brasil. George Santos não foi acusado e testemunhou a favor de Trelha em uma audiência de fiança.
No dia 15 de março, Trelha enviou uma declaração juramentada ao U.S. Secret Service onde mudou a versão sobre o caso e acusou o deputado de liderar o esquema. Alegou ainda que não havia denunciado anteriormente porque George Santos ameaçou seus amigos.
“Venho hoje declarar que o responsável pelo crime de fraude com cartão de crédito quando fui preso era George Santos/Anthony Devolder”, escreveu Gustavo Ribeiro Trelha na declaração enviada por correio expresso e e-mail para o FBI, o escritório do Serviço Secreto dos EUA em Nova York e a Procuradoria dos EUA no Distrito Leste de Nova York, de acordo com uma cópia do recibo do Serviço Postal dos Estados Unidos ao site Politico.
Telha decidiu entrar em contato com as autoridades depois de ver o recém-nomeado congressista na televisão, disse ele na declaração.
Trelha e Santos se conheceram no outono de 2016 em um grupo do Facebook para brasileiros que moram em Orlando, na Flórida, disse ele na declaração e em entrevista ao POLITICO. Em novembro, Trelha havia alugado um quarto no apartamento de Santos em Winter Park, na Flórida.
“Santos me ensinou como clonar as informações do cartão e como cloná-lo. Ele me deu todo o material e me ensinou a colocar dispositivos de clonagem e câmeras em caixas eletrônicos”, disse.
Santos, cujo nome completo é George Anthony Devolder Santos, muitas vezes usou o nome de Anthony Devolder antes de sua primeira candidatura ao Congresso em 2020.
Filho de mãe carioca e pai mineiro, Santos nasceu nos EUA e se elegeu pelo distrito de Long Island em novembro passado. Ele assumiu ter mentido na campanha sobre sua educação, experiência de trabalho e suposto ancestralidade judaica. O painel de ética da Câmara iniciou uma investigação sobre Santos na semana passada para explorar uma possível “atividade ilegal” relacionada à sua candidatura.
Autoridades estaduais, federais e brasileiras também estão investigando Santos relacionado a uma série de possíveis crimes financeiros. Santos admitiu ter “embelezado” partes de seu passado, mas disse que nunca infringiu nenhuma lei.
Ele foi questionado anteriormente sobre o esquema de Seattle por investigadores do Serviço Secreto dos EUA, informou a CBS News. Ele nunca foi acusado, mas a investigação continua aberta. Santos também disse a um amigo advogado que era “um informante” no caso de fraude. Trelha insiste que ele foi o mandante.
“Santos me ensinou como clonar as informações do cartão e como cloná-lo. Ele me deu todo o material e me ensinou a colocar dispositivos de clonagem e câmeras em caixas eletrônicos”, disse Trelha na declaração entregue às autoridades por seu advogado em Nova York, Mark Demetropoulos. O POLITICO obteve uma cópia da declaração.
Um promotor federal que cuidou do caso de Trelha descreveu o esquema como “sofisticado”, acrescentando que a parte de Seattle era apenas “a ponta do iceberg”, de acordo com registros do tribunal relatados pela CBS News.
Os porta-vozes do FBI não retornaram as mensagens do site Politico. Representantes do Serviço Secreto e do Ministério Público dos EUA se recusaram a comentar. Um advogado de Santos também não respondeu a e-mails e mensagens de texto para comentar.